V

                                      RETRATO FALADO





IV

HAI KAI


Noite sem Lua: 
Vaga-lumes divagam 
          Pelo meu quintal.


III



O mar, amor...
A doçura nos lábios
Dissolve-se na água,
Mas não há mágoa.

Todo o rio, água doce,
Torna-se salgado
Quando desemboca
No oceano.

Então, um beijo basta
Para o sabor adocicado
Chegar com as ondas
Feitas de açúcar!

Mas o mar, mesmo infinito,
Não sacia essa sede:
Amar dá água na boca,
Querer sempre mais um beijo.

II

HAI KAI


Entre mim e o céu,
Temporal que desaba: 
          Paisagem turva.


I




Tudo que aqui falta me farta,
Como se fosse uma lagarta
Que esnoba do casulo fina seda,
Já que o tempo atrasa sempre
Quando deveria ser cedo
O instante que me transforma
(de uma forma ou de outra)
Em algo que possa pelo menos voar
Para de tudo estar distante...
Para de tudo ter mais falta...
Para, contudo, sentir saudades...


[Originalmente escrito em 13 Jun 2006 sob o título de "Casulo"]